“Os Sete Magníficos” é um western à antiga
Um cowboy negro chega a cavalo a uma cidade perdida no oeste americano e mata sem nenhum aparente motivo o empregado do saloon. No final do tiroteio, e perante o pânico dos moradores, chega o xérife para acalmar os ânimos. Surpresa: o cowboy negro não é um criminoso, mas sim um caçador de recompensas e o senhor que faleceu demasiado depressa, um criminoso procurado noutros estados. Tudo isto lhe está a parecer demasiado familiar, certo? D-J-A-N-G-O. Pois, mas não é — esta é uma das primeiras cenas de “Os Sete Magníficos”, o western realizado por Antoine Fuqua que estreou esta quinta-feira, 22 de setembro, nos cinemas portugueses.
“Os Sete Magníficos” é um western à moda antiga, com cenas prolongadas de tiroteios, personagens pouco profundas e diálogos que nunca ultrapassam as três falas.
A história é um remake da versão original de 1960, de John Sturges (com Steve McQueen e Charles Bronson), que por sua vez já tinha sido uma reinvenção americana da belíssima e majestosa obra prima de Akira Kurosawa, “Os Sete Samurais” (1954).
Desta vez, o argumento manteve-se básico, tal qual a primeira versão americana: uma cidade mineira, com gente pobre mas honesta, é explorada por um capitalista sem escrúpulos (Peter Saarsgard) que só quer ganhar dinheiro. Pelo meio, seis cowboys e um índio que não se conheciam acabam por aceitar o dinheiro de uma viúva para, juntos, expulsarem os invasores.
O grande problema desta narrativa não está, como costuma acontecer na maioria dos remakes, com o facto de os novos atores não terem capacidade para nos fazerem desligar das personagens originais. O pecado está no facto de a personagem principal ser um cowboy negro que anda a cavalo pelo oeste americano a matar criminosos em troca de recompensas. É bom repetir esta ideia, porque claramente o realizador e o argumentista Nic Pizzoolatto (o mesmo autor da série da HBO, “True Detective”) deviam ter abordado o assunto de forma mais inteligente. Quando Denzel Washington nos é apresentado assim, a primeira, segunda e terceira coisa em que pensamos é: olha, o Django; olha, o Django parece mais velho; olha, desta vez o Django diz menos asneiras.
Depois, chegam os outros problemas inerentes a esta premissa. A questão racial. Em “Imperdoável”, Clint Eastwood é acompanhado por Morgan Freeman e isso nunca foi sequer uma questão. Mas como é óbvio — e Tarantino e Jamie Foxx sabem-no bem — um caçador de recompensas a cavalgar pelo século XIX com um dedo rápido no gatilho vai provocar reações violentas nas pessoas com quem se cruza. No caso de “Os Sete Magníficos”, a cor de Denzel nunca é sequer referida. Por ninguém. A ideia de que, com o desenrolar da história, nos vamos esquecer disso, como aconteceu nos outros filmes, é infantil.
Mas as comparações com outros heróis não se ficam por aqui. O segundo dos magníficos é Chris Pratt, que parece ter trocado as pistolas laser de “Guardiões da Galáxia” por duas peacemaker e um cavalo. Josh Faraday, o cowboy solitário com um sentido de humor refinado, é uma versão menos polida de Peter Quill. O que não é necessariamente mau — mas também não é original.
Sobram os restantes: Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio, Byung-hun Lee e Manuel Garcia Rulf, que são isso mesmo: os restantes.
Estreou um western e isso é sempre um motivo de alegria para qualquer cinéfilo que tenha crescido a ver Sergio Leone, Sam Peckinpah ou John Ford.
Agora, as partes boas. Estreou um western e isso é sempre um motivo de alegria para qualquer cinéfilo que tenha crescido a ver Sergio Leone, Sam Peckinpah ou John Ford. Em “Os Sete Magníficos”, Fuqua retoma a imagem do herói vigilante que usara em “The Equalizer —Sem Misericórdia” pontuada, claro está, com uns planos aproximados dos rostos transpirados (inspirados em Leone) e dos planos épicos das pradarias de Ford.
O experiente Fuqua deixou o melhor de si para o fim, típico de quem percebe que todos os defeitos das personagens são rapidamente esquecidos se dermos uma grande conclusão aos espectadores. E é isso que acontece. O tiroteio ao estilo “The Wild Bunch” liberta todas as qualidades de um realizador que é mestre na gestão dos tempos de ação e de humor nestas grandes sequências. Características mais do que suficientes para ver e gostar de “Os Sete Magníficos”. Afinal, quem é que não gosta de uma bela “comboyada”?